O TEMPLO MAÇÔNICO

O TEMPLO MAÇÔNICO

QUANDO A DITADURA SE TRAVESTE DE DEMOCRACIA

 

Autores: IIr. Alfredo Ramos (MM) e Alvaro Vilella (MM)



·           O PODER É DOCE

 

Desde que o ser humano começou a aprender as técnicas de agricultura, isso ainda no tempo das cavernas, passou de um estilo de vida nômade para um mais gregário e fixo. Nessa altura começaram a se formar grupamentos humanos mais numerosos e foi necessário estabelecer um ordenamento social para garantir o perfeito funcionamento dessas sociedades primitivas. As funções foram divididas por especialidade para aumentar a produtividade e dentre elas surgiu uma função muito cobiçada, qual seja a de LÍDER do grupo.

É muito bom ser líder, pois os privilégios são muito atrativos. O Líder come primeiro e por isso escolhe as melhores partes da caça; O Líder escolhe quem e com quantas parceiras irá acasalar; O Líder recebe proteção e tem sempre a primazia das escolhas.

Por tudo isso, a função de líder sempre foi muito disputada. No princípio a escolha era feita simplesmente pela lei do mais forte. O maior, mais rápido e que sabia manejar melhor as armas, acabava por assumir a função de líder.

Praticamente todas as guerras travadas até hoje tinham como pano de fundo a DISPUTA PELO PODER. O valor da própria vida acaba ficando em segundo plano e mata-se sem pestanejar em prol da conquista do poder.

Com o passar do tempo, os métodos de escolha do líder se tornaram menos primitivos e foi se aprimorando até que os Gregos, ainda na antiguidade, presentearam a humanidade com o maravilhoso método chamado de DEMOCRACIA, onde as escolhas eram feitas por consulta a um determinado grupo através de um processo de ELEIÇÃO. Obviamente que a ideia original era muito boa, mas o processo democrático teve que passar por vários aprimoramentos ao longo da história. No princípio somente um grupo pequeno de homens e com poder econômico tinham direito a voto. Nas sociedades modernas praticamente todos que tem capacidade mental de escolha tem direito à voto.

 

·           PODE UMA ELEIÇÃO UNGIR UMA DITADURA?

 

A maçonaria sempre foi uma fraternidade alinhada com as melhores práticas e não é de se estranhar que adotou o método democrático, desde há muito tempo, para escolher as suas lideranças. E mesmo assim tomando o cuidado de definir mandatos temporários para que haja oportunidade para todos exercerem tal liderança e ocorra a saudável e revigorante prática da alternância no poder.

Porém a vontade de se fixar no poder de forma indefinida é uma poderosa tentação e sempre há pessoas criativas que encontram uma maneira de burlar os princípios mais sagrados.

Dizem que o diabo mora nos detalhes e foi a partir deste princípio que algumas pessoas muito criativas conseguiram criar um sistema eleitoral na GLESP que tem toda a aparência de um processo democrático mas, na verdade, é um engenhoso engodo criado para perpetuar um pequeno grupo no poder.

Abraham Lincoln disse certa vez que pode-se enganar todos por algum tempo; Pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar todos o tempo todo.

Creio que seja esta fase que estamos vivendo exatamente agora.

 

·           O FAMIGERADO ARTIGO 113

 

É impossível dizer se isso foi feito de forma premeditada oi foi simples descuido do legislador, mas o fato é que o Artigo 113 da nossa Constituição Maçônica da GLESP é um verdadeiro berçário de Ditadores. Pelos termos do mencionado Artigo fica praticamente impraticável que haja alternância de poder na GLESP e estabelece, na prática, um poder monárquico, hereditário, sendo o monarca plantonista trocado a cada 3 anos, porém sempre do mesmo grupo.

Vamos analisar a questão com frieza e raciocínio.

Pelo calendário estipulado pelo mencionado artigo, as chapas que desejam concorrer a eleição na GLESP devem se inscrever até o dia 10 de Fevereiro do ano eleitoral no Superior tribunal Maçônico.

O Tribunal tem 30 dias para se pronunciar e, se tudo estiver correto na inscrição, a chapa recebe a aprovação em meados de MARÇO.

Como a eleição ocorre em MAIO, a chapa tem aproximadamente 60 dias para fazer sua campanha eleitoral.

Nós somos aproximadamente 800 lojas no Estado de São Paulo.

Se a chapa for do grupo da situação, ao qual pertence o atual G؞M؞ no cargo, certamente seus membros já estavam em atividade visível para todas lojas pelos 3 anos do mandato em curso. São nomes que as lojas viram a todo momento através dos atos e eventos da atual administração. Então, por serem nomes já conhecidos devido a exposição, possuem uma imensa vantagem em relação aos outros concorrentes.

Se a chapa for de uma nova liderança, ainda não conhecida, não haverá tempo hábil para se fazer conhecer pelas 800 lojas. Se os representantes da chapa visitarem religiosamente uma loja por dia, TODOS OS DIAS, ao final da campanha terão falado para cerca de 60 das 800 lojas, ou seja, menos de 10% do total.

Com isso fica evidente o vício dessa eleição facciosa.

E muitos têm coragem de chamar isso de DEMOCRACIA. Mais apropriado seria chamar de “DEMOCRATURA”.

 

·           APRENDENDO COM O MUNDO PROFANO

 

As atividades mundanas são geralmente criticadas dentro do mundo maçônico, mas no quesito eleitoral cremos que temos muito a aprender com as práticas profanas.

É possível sim, sem muito esforço e recursos, democratizar enormemente as eleições na GLESP, bastando para isso vontade e determinação.

Há várias ideias que podemos aplicar, tendo em vista a modernização dos meios de comunicação, que poderiam equalizar e equilibrar a disputa pelo poder na nossa potência. Vamos listar algumas, mas já alertamos que muitas outras poderiam ser agregadas.

Ø  DEBATES ELEITORAIS EM LIVE: A GLESP poderia promover, divulgando previamente para todas as lojas, pelo menos 2 debates entre todos os candidatos a G؞M؞ e transmiti-los ao vivo pela internet. Define-se critérios justos e democráticos (pode-se utilizar os debates do mundo profano como padrão) e colocam-se os candidatos a G؞M؞ frente a frente para debaterem e confrontarem suas ideias. Pode-se também ter uma sessão dedicada a perguntas sorteadas das pessoas que estão assistindo e também perguntas de jornalistas maçônicos neutros. Intercalados com os 2 debates dos postulantes a G؞M؞, pode-se incluir mais 2 debates com os candidatos a Primeiro Grande Vigilante.

Ø  PLATAFORMAS ELEITORAIS EM PODCAST: Assim como o horário eleitoral gratuito do mundo profano, a GLESP poderia disponibilizar em seu site o acesso a gravações (podcast) de cada um dos candidatos defendendo as suas plataformas de governo. Pode-se permitir que cada candidato grave 1 podcast por semana, cada um de 10 minutos no máximo, para forçar os candidatos a se esmerarem no poder da síntese, cobrindo os assuntos mais relevantes.

Ø  OBS: Estas duas ações podem ser feitas sem alterar o calendário hoje existente na legislação maçônica.

Ø  ELEIÇÃO ELETRÔNICA: Não é tão urgente quanto à democratização da visibilidade dos candidatos, mas é uma ação importante que se mude o nosso sistema eleitoral para votação eletrônica pela internet. Várias entidades de classe já fazem isso hoje com perfeita segurança e confiabilidade. Além de reduzir o tempo de apuração da eleição e aumentar a segurança contra fraudes, a votação eletrônica irá reduzir drasticamente o CUSTO das eleições, pois não necessitaremos utilizar incontáveis postos físicos de votação nem aquele exército de pessoas necessárias para mover todo este aparato.  

 

·           SUMÁRIO

Não nos enganemos. A reforma do nosso sistema eleitoral é FUNDAMENTAL para a resolução dos nossos problemas. Enquanto não atacarmos este problema de frente e resolve-lo de fato, vamos ficar assistindo o mesmo grupo revezando seus próprios membros no poder, num ciclo vicioso perverso que vai acabar nos devastando.

As soluções propostas são de baixíssimo custo, rápidas de implementar, e seriam uma verdadeira revolução do bem nas nossas práticas. Ao menos, se votarmos errado, não será por ignorância, mas por escolha equivocada, que sempre pode ser corrigida na próxima eleição. Da maneira como estamos, nem o sagrado direito de usar mal o nosso livre arbítrio e escolher errado nos é garantido.

Certa vez, o jogador de futebol Vampeta foi entrevistado, numa ocasião em que jogava pelo Flamengo e os salários dos jogadores estavam em atraso. O repórter indagou:

“- Vampeta, os salários atrasados estão afetando os jogadores em campo? ”

O Jogador respondeu:

“- Está tudo bem. Eles fingem que pagam e nós fingimos que jogamos”

Se não fizermos nada para mudar esta situação gravíssima do nosso sistema eleitoral, nós estaremos condenados a perpetuar esta máxima:

“Nós fingimos que votamos e eles fingem que governam”

 

Oriente de São Paulo, 06 de Março de 2021 da E؞V

IIrr؞ Alfredo Ramos (M؞M؞) e Alvaro Vilella (M؞M؞)

A؞R؞L؞S؞ Verdadeiros Irmãos, 669


Um comentário:

  1. O tema em foco é realmnente chave e deve ser bem estudado pelas Lojas, pois estas constituem, em última instância, o poder legislativo da Grande Loja.

    Considero que esta matéria é um chamamento para as Lojas despertarem do estado de apatia e distanciamento com relação ao exercício das suas funções legislativas.

    Em adição ao expôstopelos autores, parece-me necessário a mudança dos seguintes paradigmas:

    - Mandatos excessivamente longos:
    Qual a razão de um GM ser eleito por um periodo de 3 anos e ainda poder concorrer a uma reeleição?
    Solução proposta: Os mandatos deverão ser reduzidos ao máximo de 1 ano, para todos os cargos e sem reeleição.

    - Chapas eleitorais:
    Estas são a verdadeira origem dos grupos de poder. Aqui mora o perigo maior.
    Solução proposta: As eleições deverão ser individualizadas por cargos. Os candidatos deverão se apresentar individualmente através dos Boletins e Publicações oficiais e os Distritos/Regiões promoverem encontros para ouvir e interagir com os candidatos a GM, GMA, 1GV e 2GV.

    - Eleições:
    Não há necessidade de todos os MMMM votarem, uma vez que as Lojas são representadas pelos seus VVMM e VVig.
    Solução proposta: A cada ano, na AG de Dezembro os representantes das Lojas exercer o voto e eleger em nome das Lojas os novos Grandes Oficiais.

    É fundamental que as Lideranças das Lojas assumam e exerçam de direito e de fato os seus poderes e responsabilidades, o que incluem a fiscalização permanente dos interesses dos membros das suas respectivas Lojas.

    Fraternalmente

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