Autor: Ir.´. Caio R. Reis
A exaltação da amizade
Como é bom e agradável!
Nada há de mais importante na vida de um ser humano do que
seus relacionamentos. Eles exercem grande influência sobre a personalidade das
pessoas. A partir de relacionamentos, desenvolvemos uma série de sentimentos,
desde a autoconfiança até os traumas mais profundos. Dentre os
relacionamentos que vivemos está a amizade .
Nos textos bíblicos, encontramos muitas narrativas a respeito de
amizades. Algumas delas se tornaram verdadeiros ícones do que um amigo deve ser: Jônatas e David,
Paulo e Barnabé, Rute e Noemi. Nos provérbios encontramos dicas a respeito da
amizade e de como um amigo verdadeiro pode se tornar melhor do que um membro da
família. Nos salmos também encontramos o lado duro do sentimento de amizade não
correspondido: os falsos amigos.
Mas o salmo 133 fala do lado belo e alegre da amizade e da satisfação
que ela proporciona. Vamos portanto ver
o que podemos aprender com os salmos a respeito deste sentimento tão bom e
revigorante, que é ter um amigo de verdade.
Este é o salmo das subidas, ou dos degraus. Significa que ele era
entoado pelos peregrinos que iam a Jerusalém para adorar. No caminho eles
celebravam a vida, a colheita e as bênçãos recebidas. Exaltavam também a
amizade e a fraternidade entre os membros das famílias, clãs e da nação como um
todo.
O texto começa falando exatamente de como uma amizade pode gerar
sentimentos positivos em nosso viver. É “bom e agradável” viver em unidade,
como irmãos. Ao ler este texto, penso nos meus amigos de infância e
adolescência. Aqueles para quem a gente
conta tudo; que torce conosco pelas coisas que desejamos. Talvez um dos
momentos que mais marca a nossa vida em termos de amizades, seja mesmo a adolescência.
Mas também os momentos duros, revelam os verdadeiros amigos.
Algumas pessoas exercem a amizade como um verdadeiro sacerdócio. Foi por
meio da amizade que Felipe levou Natanael a conhecer Jesus (O Evangelho segundo João 1 versículos 45-49).
Meu sogro, homem integro e maçom fervoroso, contava que quando se mudou
para São Paulo, começando no exercício da sua profissão de dentista, não tinha
nada, nem conhecia ninguém. Houve amigos ali que se ofereceram para serem seus
fiadores quando alugou uma casa; amigos que apresentaram outras pessoas da
sociedade desta cidade então bem menor. Gente que não o conhecia exerceu
tal amizade para com ele que passaram a
fazer parte da família por várias décadas.
É bom e agradável ter amigos
verdadeiros. O salmo prossegue trazendo algumas imagens a respeito da amizade.
Vamos descobrir quais são elas?
É como o óleo precioso
Nos tempos bíblicos o óleo era uma riqueza: servia para iluminar a casa
(em lamparinas) , para produzir a refeição, para curar ferimentos, para ungir
pessoas destinadas ao sacerdócio. Usa-lo para comparar-se à amizade é portanto falar implicitamente de
todas as qualidades e desdobramentos que a amizade pode ter na vida de uma
pessoa. De fato, um bom amigo, com sua companhia e presença, pode iluminar a
vida, curar as dores da alma ( e até do corpo, conforme o caso, pois é solidário
na enfermidade ou na fome), pode nos levar a assumir o lugar que temos na vida
e na missão de Deus.
A imagem que aparece no salmo é, talvez, a mais elevada de todas para a
comparação. O sentimento da amizade verdadeira é santificado no texto pois é
tal como a unção de um sacerdote. Não um sacerdote qualquer, mas o primeiro
deles na linha sacerdotal: o próprio Arão.
“É como o óleo precioso sobre a cabeça” diz o salmista. Uma amizade
verdadeira é uma consagração. Não apenas sobre a cabeça, mas também sobre a
barba, sinal de dignidade no mundo do Antigo Testamento. Homens honrados eram
conhecidos por suas longas barbas.
Uma continuação deste costume pode ser observado hoje entre os judeus
ortodoxos e até entre os árabes. A comparação nos faz pensar que um amigo
verdadeiro é aquele que, com sua amizade, traz dignidade, respeito e honra
àquele que recebe seus sentimentos. É uma amizade transbordante esta do salmo
133. Não fica apenas na cabeça ou na barba, mas é tão farta que escorre até a
orla das vestes sacerdotais!
É como o orvalho do Hermon
O povo de Israel não tem chuvas com freqüência. Geralmente elas caiam em
outubro (quando se fazia o preparo da terra para o plantio) e em maio (quando
as plantações amadureciam para a s colheitas). Além disso, as únicas fontes de
água eram as cisternas e poços, os rios e açudes e o orvalho. Em agosto e
setembro ele era mais intenso e decisivo na vida dos israelitas.
Assim a amizade verdadeira produz fertilidade na vida das pessoas. Isso
é fator observável . Um amigo verdadeiro nos impulsiona a tomar decisões que às
vezes retardamos. Ele é o único que tem a coragem de dizer em nossa face aquilo
que , muitas vezes, os outros dizem por trás de nós. E ele o faz para que
possamos nos corrigir e dar um passo à frente. Nesse sentido é próspero e feliz
o ser humano que tem um amigo verdadeiro. Ele é capaz de tirar os espinhos e
abrolhos da nossa vida com palavras verdadeiras e profundas, para que possamos ter o terreno da nossa existência fertilizado para produzir bons frutos e belas
flores.
Ali ordena o Senhor a bênção e a vida
Por fim o salmo nos fala que a amizade verdadeira é um espaço para a
ação de Deus. Na vida da comunidade maçônica é preciso incentivar e promover
a amizade. Muita gente pensa que os
momentos de confraternização, de um almoço juntos, de um café ou de um simples
jogo de futebol não fazem parte da nossa vida maçônica. Acham que desenvolvemos
a nossa espiritualidade nos Templos Maçônicos e nos encontros formais. Grande
engano. Muita gente se aproxima de Deus como Natanael, pelo convite de um
amigo. A Maçonaria que incentiva e desenvolve relações de amizade entre os seus
membros tem uma comunidade mais forte para resistir a quaisquer pressões
internas ou externas. Porque a amizade é o espaço da presença de Deus onde Ele
ordena bênção e vida. O mais importante é que isto ocorre, não por um momento
ou outro, não somente em determinadas ocasiões mas sim Ele ordena a bênção e a
vida para sempre, continuamente para todos os dias.
É interessante observar como todas as comparações do Salmo, aludem à
presença de Deus. A amizade vem do alto é como o óleo que cai sobre a cabeça; é
como o orvalho que cai sobre a terra; é como a bênção de Deus que vem dos céus,
lugar da morada divina. A amizade genuína é celestial, vem do alto. Nesta
dimensão se torna consagradora, santificadora, sagrada.
Não fomos feitos para viver isoladamente. A bênção de Deus ocorre quando
vivemos a dimensão comunitária de nossa existência.
Que possamos, a cada momento, trazer à mente nossos amigos e amigas mais
queridos, entregando-os ao Grande Arquiteto do Universo em oração e sendo
gratos pela existência deles ao nosso lado. Também possamos valorizar novos
espaços, amizade e aceitação, sabendo que o amigo ama todo o tempo.
"O amigo fiel é uma forte proteção, e quem o achou, achou um tesouro."
(Eclesiastico 6 versículo14)
(Eclesiastico 6 versículo14)
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