O TEMPLO MAÇÔNICO

O TEMPLO MAÇÔNICO

SELOS DE TAXAS MAÇÔNICAS

e. figueiredo(*)

“Quem guarda, tem !...”
        Minha saudosa falecida Mãe



Infelizmente,  em quase todos os setores, não há uma preocupação maior em se preservar a memória.  Destroem-se, e vão para o lixo, preciosidades que no futuro farão falta quando se pesquisar com o propósito de se resgatar a História.  Poucos são aqueles que têm a visão de que construímos a História ao longo do tempo e, raríssimos são os que guardam, para a posteridade, documentos e dados fiéis, que registram os acontecimentos, que propiciem aos pósteros elementos que não distorçam a verdade e que confirmem os fatos.  São a principal matéria-prima para os pesquisadores e historiadores, com suas perambulações para recompor a História, agindo como detetives, para elaborarem os resultados dos seus trabalhos e divulgá-los com seriedade, contando os episódios com a maior fidelidade possível.

Uma das fontes em que os pesquisadores e historiadores se baseiam, para buscar determinados dados e confirmações de acontecimentos, nas suas andanças e peregrinações, são coleções.  Coleções de selos, moedas, medalhas, jornais, revistas, pinturas, fotos, cartões postais, cartas, caixas de fósforos, embalagens de cigarros, brinquedos, figurinhas, bilhetes de loterias, livros, manuais, são alguns poucos exemplos.  Geralmente, o valor intrínseco das coleções é medido pela raridade das peças que as compõem, justamente porque o que fica para a posteridade é o que escapou da destruição, é algo que alguém guardou, seja intencionalmente para ter um registro ou, quase sempre, por razões sentimentais.  Assim, quanto menos existir determinado objeto, maior será o valor do que sobreviveu e maior dificuldade para aqueles que buscam informações para o trabalho que se propõe a elaborar para contar a História.  O colecionismo, dessa forma, passou a ser uma das maiores fontes para se pesquisar, seja qual for o segmento e o objetivo focados.

Dentre tudo que se coleciona, a Filatelia é considerada o hobby por excelência, o mais popular e praticado em todo mundo !  Alem da idéia básica de entretenimento cultural, pode ser considerada uma arte e até uma ciência, que faz por preservar a memória dos principais acontecimentos da Humanidade.  É o testemunho da história e cultura do mundo.  Os selos refletem as imagens de todas a nações do planeta de acordo com as suas particularidades inerentes e características peculiares, retratando aspectos culturais, sociais e históricos.  É um fundo de conhecimento geral.  Face à sua importância, diversos países introduziram a filatelia em seus currículos escolares.  Os filatelistas costumam dizer que os selos postais contam a verdade !

Na Maçonaria havia um expediente de se selar os documentos com uma estampilha, comumente referida como “Taxa Maçônica”, hoje descontinuada em virtude da informatização.  Eram selos apostos em pranchas, rituais, requerimentos, “Quite Placet”, diplomas, certificados e mil outros documentos, para dar autenticidade legal do que emanava da Potência Maçônica.  Algumas poucas Lojas Maçônicas chegaram a fazer uso dessa prática.  Esses papeizinhos têm aparência de selos postais e, como eles, cores características, uns picotados, outros percês, alguns como adesivos, nos mais variados formatos: quadrados, retangulares, circulares, ovais e até estrelados.  Obviamente, teria de aparecer interessados em colecionar e estudá-los, no mesmo critério filatélico.

Alguns selos Maçônicos foram usados por décadas, outros caíram em desuso em pouco tempo, e, por vezes, alguns foram substituídos, alterados ou modificados, o quê trouxe uma variedade de espécimen.  Tais selos, geralmente com as cores e emblemas das entidades, registraram, de alguma forma, passagem e evolução da Sublime Ordem em suas variadas Potências, ao darem autenticidade em algum documento por elas emitidos e despachados.  Contudo, nunca houve a preocupação voluntária de se guardar exemplares para a posteridade.  É provável e lamentável, que algumas dessas entidades não mais existam e que teriam a mesma prática: o expediente de se selar e carimbar seus documentos, agora, perdido no tempo.

Os selos usados pelo Grande Oriente do Brasil eram os mesmos para todo o país.  As Grandes Lojas, porém, tinham o seu uso conforme o Estado da Federação, apesar que algumas não utilizavam ou recorriam a apenas aos carimbos, com as divisas da entidade, para dar autenticidade na documentação da Ordem.  Os carimbos aparecem, por vezes, obliterando selos Maçônicos.  Esses conhecimentos se adquirem com o colecionismo de selos de taxas Maçônicas.  Ao estudá-los, muita coisa se descobre, como por exemplo, que o selo azul, utilizado durante muitos anos nos documentos pela Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo, havia sido precedido de um idêntico na cor vermelha, considerado raríssimo pelos entendidos.  Alguns Supremos Conselhos (entidades que ministram os Graus Filosóficos para os Maçons) chegaram a utilizar selos em seus documentos e correspondências.  Encontramos muitos selos criados para registrar efemérides de Lojas e Potências, como aniversários de Loja, jubileus, conferências ou algum evento importante, apostos em cartas, envelopes e convites.  Essas estampilhas, pois, têm parte da história da Maçonaria.  E, como não poderia deixar de ser, acabou despertando a curiosidade e o interesse de pessoas em colecioná-las.  Mas são raríssimos os colecionadores que  surgiram interessados nesses selos, para guardar, colecionar e estudar, a exemplo dos selos postais, propriamente dito.  Não obstante, deve seguir a mesma metodologia da coleção filatélica, como senso de observação, atenção, paciência, registro e rigor na avaliação, elementos obrigatórios para se chegar à profundidade do tema que se está pesquisando.

O colecionismo de Selos de Taxas Maçônicas é considerado tão importante, que um dos maiores pesquisadores Maçônicos do Brasil, o escritor maçonólogo, numismático e filatelista Kurt Prober (1909-2008), do Rio de Janeiro, RJ, ímpar da pesquisa Maçônica brasileira, editou um catálogo para registrar, o que até a data da sua edição fora possível reunir, as emissões dessas estampilhas.  Um trabalho de fôlego, com reproduções dos principais selos Maçônicos encontrados, facilitando, sobremaneira, àqueles que pesquisam e estudam o assunto ou que, também, colecionam.  Como esses selos tinham trâmite restrito, isto é, apenas no âmbito da Maçonaria, torna-se extremamente dificílimo pesquisar e obtê-los, principalmente os antigos, da época em que os livros, documentos e objetos da Sublime Ordem eram guardados a Sete Chaves. 

A coleção de Kurt Prober, que ele apregoava com orgulho ser a maior do mundo, foi cedida a um colecionador brasileiro, que prefere se manter no anonimato, não só pelo valor estimativo e sentimental mas, principalmente, monetário, cuja avaliação do acervo não é revelada.  Segundo se sabe, a intenção do atual proprietário dessa coleção é doá-la para o museu de uma das Potências Maçônicas do Brasil.

São poucos, realmente, os colecionadores conhecidos de Selos de Taxas Maçônicas, e, quase todos filatélicos ávidos por descobrirem peças raras para aumentar e valorizar, ainda mais, suas coleções.  E é provável que existam essas peças enfurnadas em velhos baús ou fundos de gavetas, e, numa eventual faxina, correm o risco de irem para o lixo....

...continuando-se a destruir a História !

Não obstante, nem tudo está perdido !  Graças à semente plantada por Kurt Prober e aos poucos aficionados na coleção de Selos de Taxas Maçônicas, que ainda insistem nas suas pesquisas, esses papeizinhos ainda têm muito a revelar porque, para o colecionador, a busca é sempre infindável....



(*) E. Figueiredo -  é jornalista - Mtb 34 947 e pertence ao
CERAT - Clube Epistolar Real Arco do Templo  / 
Integra o GEIA –  Grupo de Estudos Iniciáticos Athenas /
Membro da  Confraternidade Mesa 22, e é
Obreiro da ARLS Verdadeiros Irmãos– 669 (GLESP)











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