O TEMPLO MAÇÔNICO

O TEMPLO MAÇÔNICO

OS LANDMARKS

Autor: Ir.´. Caio R. Reis


Antes de iniciarmos o nosso trabalho, resta definir o que vem a ser um “landmark”. A palavra é inglesa e se buscarmos uma tradução literal no dicionário, vamos encontrar a palavra marco.
No meu entendimento, marco ainda não é melhor tradução para “landmark”. Eu, numa tradução livre o chamaria de ponto notável. Ponto notável de que?

Muito bem, nos primórdios da Maçonaria, tal qual hoje ela é conhecida, houve na Inglaterra, a necessidade de se escrever uma Constituição a qual permanece até os nossos tempos. Naquela época existia uma excrecência maçônica que era a admissão nos trabalhos e nos Templos Maçônicos, de religiosos e médicos, mesmo não tendo eles sido iniciados em nossos augustos mistérios.

Assim sendo, foi escolhido junto com outros maçons notáveis da época um Pastor Presbiteriano chamado Reverendo James Anderson para desempenhar tal tarefa. Dizem alguns estudiosos maçons que há dúvidas se o Rev. Anderson era verdadeiramente maçom, isto é se havia sido regularmente iniciado.

Foi desta forma escrita a Constituição Maçônica onde se percebe claramente a influência religiosa do ortodoxo Rev. Anderson.

Logo no início da Constituição pode ser lido o seguinte trecho: “pela sua missão, um maçom é OBRIGADO a obedecer a Lei Moral, e nunca será um estúpido ateu, nem um Libertino Irreligioso”. A palavra libertino no caso tem o seguinte significado: “que ou aquele que revela irreverência a regras e dogmas estabelecidos, especialmente à religião e à prática desta”. Ora, onde está a tão apregoada liberdade na Maçonaria? Ser livre e de bons costumes. Como pode haver liberdade se nos obrigam a seguir dogmas religiosos e praticar uma religião?

Bem, querendo ou não esta é a Constituição que temos e que com o passar dos anos foi um pouco abrandada através da introdução dos “landmarks”.
Os “landmarks” são pontos notáveis e agora me permito usar a minha tradução, extraídos desta Constituição e que devem ser rigorosamente obedecidos pelos Maçons.
Ocorre que a extração destes pontos notáveis não foi feita apenas por um único maçom e desta forma temos dezenas de conjuntos de “landmarks” utilizados conforme a conveniência de cada Potência Maçônica que os adota.

Os “landmarks” adotados pela GLESP foram escritos por um médico americano chamado Dr. Albert Galletin Mackey, são em número de vinte e cinco e suavizam bastante a escrita original da Constituição, principalmente quando trata da crença no G.´.A.´.D.´.U.´..

Outros ritos, como é o caso do Rito Moderno adotaram os nove “landmarks” do Ir.´. J.G. Findel e assim as diversas Grande Lojas Americanas adotam cada qual o tipo de “landmarks” que consideram mais conveniente, escritos por diferentes irmãos e variando em número e em conteúdo.

Deixemos portanto claro que os “landmarks” surgiram bem mais tarde do que a Constituição e no meu entender foi uma forma encontrada para abrandar o radicalismo religioso que até hoje transparece em nosso rituais.

Cada conjunto de “landmarks” é intocável e imutável e são tratados como cláusulas pétreas. Pode, entretanto a Potência Maçônica mudar o seu conjunto de “landmarks”, adaptando-os da forma mais conveniente.



3 comentários:

  1. Brilhante o texto do Irmão Caio.
    Agora compreendi bem a razão de ser dos Landmarks e a sua função como "interface" entre um texto constitucional "contaminado" e a vida real.

    A criação dos landmarks foi uma atitude inteligente para não causar impasses entre a constituição maçônica (impregnada de dogmatismos religiosos indevidos) e os princípios originais da própria maçonaria.

    Porém, a pergunta que não quer mesmo calar é a seguinte: Por que, ao invés de usar paliativos criativos, a comunidade maçônica não faz de uma vez o que já deveria ter sido feito há muito tempo: Convocar uma assembléia constituinte de amplitude universal e atualizar de uma vez a constituição ?

    Será que os Maçons da atualidade não tem capacidade mental, legitimidade e representatividade para escrever a própria constituição, sem ter que ficar se valendo de subterfúgios, mesmo os elegantes como os Landmarks ?

    Somente as leis Naturais são imutaveis. Tudo que é feito pelo Homem necessita de ajustes e atualização, à medida em que o tempo passa e os costumes e a moral evoluem.

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  2. Muito me alegra saber que o irmão pensa como eu. Agradeço as suas palavras gentís e espero que outros irmãos pensem nestes fatos para que encontremos uma saída.
    Aceite um TFA do Ir.´. Caio R. Reis

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  3. Esse é um tema bastante importante pois define também aspectos da regularidade de uma Grande Loja. Nossa Grande Loja adotou aceitar a crença em um Ser Supremo e incluir o Livro da Lei (que sem margem de dúvida trata-se da Bíblia Sagrada) entre os simbolos de máxima expressividade.

    A adoção desses elementos pela Grande Loja Unida da Inglaterra é uma das condições para o reconhecimento. Veja o link a seguir.

    http://issuu.com/freemasonrytoday/docs/book_of_constitutions_-_craft_rules/13?e=3021365/34704406

    É claro que a opção de seguir ou não tais condições é uma opção de cada Constituição Maçônica independente. Também é importante notar que as Lojas poderão escolher a que Constituição querem se subordinar. E é também importante notar que o maçom pode optar em abrigar-se em uma Loja que melhor atenda os seus anseios no que concerne a valores espirituais.

    Realmente não consigo visualizar onde a Instituição Maçônica representada pela nossa Constituição se caracteriza como fundamentada em radicalismo religioso. Ao contrário, o que tenho vivenciado é o oposto, ou seja, a tolerância religiosa é parte intrínsica da nossa doutrina.

    Compreendo o desconforto de alguns Irmãos que não acreditando na existência de um Ser Supremo, que seja o Arquiteto Supremo de tudo que há, houve e haverá, desejam criar uma perspectiva unicamente humanista e materialista que possa satisfaze-los.

    Penso que um movimento para mudar os nossos atuais landmarks, a menos que exista um clamor real nesse sentido na jurisdição da nossa Grande Loja deva ser conduzido com muito cuidado e repsito pelas convicções de cada um de nós que nos irmanamos na doutrina maçônica.

    Fraterno e cordial abraço ao querido e Resp. Ir. Caio que nos proporciona esse interessante debate.

    Que o G.A.D.U. a todos ilumine e guarde.

    Ir. Kleber Siqueira

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