Autor: E. Figueiredo
(Vale a pena abrir mão da “qualidade” em nome da
“quantidade”?)
Estamos vivendo num mundo onde tudo está acontecendo com rapidez
jamais vista. Invenções utilizando
tecnologia avançada permitem realizarmos várias coisas (nosso trabalho, nossas
tarefas cotidianas) em tempo restrito e com qualidade. As expressões, que as empresas passaram a
utilizar há alguns anos, principalmente as multinacionais, “qualidade total”, “controle de qualidade“, e outras, acabaram tendo aplicação não só
no campo profissional, mas, também, abrangendo diferentes áreas de atuação.
Essa
tecnologia, que vem transformando o nosso planeta Terra, chegou também à
Sublime Ordem. Assim é que “qualidade total” e “controle de qualidade” passassem a ser termos empregados pelos seus
integrantes. E não poderia ser
diferente, pois os Maçons convivem com os avanços tecnológicos nos locais de
trabalho, cuja experiência, indubitavelmente, é transportada para o interior
dos Templos.
Há
aqueles, os quais interpretam como uma profanação à tradição Maçônica, que não
vêem isso com bons olhos, entretanto, não poderão negar o lado positivo, que é
a consciência de que as coisas na Arte Real merecem ser preparadas e cuidadas
com carinho, seriedade e não de qualquer maneira, além de acompanhar a evolução
que a Humanidade assiste. A Maçonaria
precisa, também, de pessoas de “qualidade” que expressem sua condição de livre
e de bons costumes, cumpridores de suas obrigações junto à família e à
sociedade, com um testemunho coerente de vida.
A
despeito da Ordem se ver na necessidade de servir, com maior atenção possível,
prestando assistência às pessoas, devemos ter o cuidado de não pensar que a
Maçonaria é simples empresa de prestação de serviços, como muitos assim a
interpretam. A Maçonaria, como reza em
sua declaração de princípios, tem por objetivo lutar contra a ignorância sob
todas as formas; é uma escola mútua cujo
programa se resume em: obedecer às leis
do seu país, viver segundo a honra, praticar a justiça, amar o seu semelhant e,
trabalhar sem descanso para a felicidade da Humanidade e prosseguir a sua
emancipação progressiva e pacífica. A
Maçonaria não é como um produto qualquer, que pode ser comprado ou
consumido; ela é formada por pessoas que
se esforçam, a cada dia, para fazer cumprir esses princípios, sob os quais
fizeram juramento. E é por isso que, nem
sempre a “qualidade“ atende às exigências de quem a vê de fora.
Muitos
Maçons crêem que é necessário restringir a quantidade de Obreiros em nome da
qualidade. Como em qualquer comunidade,
seus integrantes têm formas diferentes de ver a situação, o que tem provocado
divergências quanto à interpretação dos conceitos da Ordem. Nos debates, discussões e palestras, que as
Lojas promovem, têm aparecido as expressões “qualidade total” e “controle
de qualidade” como menção para que seja mais acurada a escolha do
candidato. Saber aproveitar-se da
tecnologia é ter coragem de buscar novos métodos para o bem da Ordem e do seu
aperfeiçoamento.
A
preocupação tem razão de ser, pois a escolha de um candidato para adentrar à
Ordem, poder-se-ia dizer, é tão importante como respirar para viver. São os escolhidos que dão continuidade à
Instituição.
A
amizade, a posição social, o modo de vida, o parentesco e o relacionamento
profissional são algumas das condições que devem ser consideradas, porém, não
imperativas na admissão de um novo membro.
Um amigo ou um parente por mais íntimo que seja, pode merecer toda
consideração como tal, todavia, não ser
digno de que depositem nele a confiança necessária para ser candidato a
Maçom. Deve-se entender, entretanto, que
por melhor que seja estabelecido um procedimento de escolha, com “qualidade total” e “controle de qualidade”, sempre estaremos vulneráveis, e, com
possibilidade de receber quem se desviou desse critério. É aí que deve entrar a catequese por aqueles
que são considerados “enquadrados” para fazer o Obreiro, que não se identifica
com os princípios, a ter melhor participação e desempenho e captar em
profundidade as regras da Maçonaria.
Os que
já fazem parte da Maçonaria não podem se fechar em grupos, julgando-se os
melhores, e, muito menos, manifestarem com ambigüidade deliberada – a exemplo
de mensagem diplomática – quando há necessidade constante de se optar pela
integridade da Ordem. Devem, sim, estar
abertos para acolher todos os que foram chamados a participar da Sublime Ordem,
cada um a seu modo, independentemente se foi uma boa ou má escolha. Após a admissão deve ser acompanhado com
atenção, responsabilidade e carinho, assistência está suplementada com farta
literatura Maçônica, para que tenha conhecimento exato da entidade em que
ingressou. É necessário ensinar a
desbastar a pedra bruta com poucas ou muitas pessoas, através de Maçons que já
têm boa caminhada, orientando como manusear, corretamente, o maço e o cinzel. Os mestres estão incumbidos de fazer surgir,
no espírito do neófito, alguma chama que permita abrir novos horizontes. É a missão que cabe aos mestres executar,
isto é, ensinar-lhe o sentido de ação.
Além do mais, o fato de pôr de lado uma obrigação presumida, não dá
direito a nenhum mestre Maçom de abandonar, indefinidamente, uma obrigação
inerente. Não deixa de ser uma forma de
se tentar corrigir uma possível escolha errônea. Por analogia, seria podar a árvore para que
dê bons frutos. Assim encarada, a
Maçonaria nunca será considerada uma simples agremiação ou mera espécie de
clube social, mas como uma das vias da sabedoria universal e uma verdadeira
escola de iniciação.
Apregoar,
como fazem alguns Maçons, de que a porta de entrada da Maçonaria deva ser
estreitíssima, e, a de saída, a maior possível, é uma forma simplista de tentar
resolver o problema. A busca, de se
encontrar o homem de real valor moral e intelectual, nem sempre é conseguida,
porém, claro está, a preocupação na seleção deve prevalecer sem ser negligenciada,
sob o risco de surgirem problemas, motivados por má escolha, quem sabe,
insolúveis.
O
importante é ter em mente: Se o Obreiro
entrou na Maçonaria, cabe a nós fazermos com que a Maçonaria entre nele....
(*) E.
Figueiredo – é jornalista – Mtb 34 947 e pertence
ao
CERAT – Clube Epistolar Real Arco do
Templo/
Integra o GEIA – Grupo de Estudos Iniciáticos Athenas/
Membro do GEMVI – Grupo de Estudos Maçônicos Verdadeiros Irmãos/
Obreiro da ARLS Verdadeiros Irmãos – 669 – (GLESP)