O TEMPLO MAÇÔNICO

O TEMPLO MAÇÔNICO

O OVO DA SERPENTE


Autor: e. figueiredo (*)

"O homem é um abismo e a vertigem me
assalta quando contemplo suas profundezas."
Georg Büchner


No momento que alguém está sendo iniciado, para ingresso na Maçonaria, aqueles que assistem e participam da cerimônia, não podem intuir que ali, possivelmente, poderá estar um grande Maçom, que um dia estará exercendo altos cargos na entidade ou, até, fora dela. Naquele instante está se presenciando a costumeira Sessão Magna de Iniciação, e que nas reuniões seguintes o neófito começará a receber as instruções previstas para começar a lapidação da Pedra Bruta. Em outras palavras, a iniciação, em si, tem a intenção de purificar o estranho e prepará-lo para receber os ensinamentos que ser-lhe-ão ministrados por etapas. Então começa seu crescimento espiritual no primeiro degrau de uma hierarquia simbolizada por uma escada que se perde nas alturas do céu. Cada novo degrau será acompanhado de novas cerimônias iniciáticas e com revelações mais profundas. Não obstante, ninguém, em sã consciência, poderá adivinhar o real destino do novo Irmão que está nascendo, ao receber a Verdadeira Luz, que imaginamos ser. Somente o tempo dirá....

O Maçom autêntico se orgulha quando sabe que heróis da pátria, líderes honestos, formadores de opinião corretos são Maçons, pois vê neles o exemplo que deve ser seguido e espelhado. Entretanto, quando toma conhecimento da existência de que maus políticos, governantes aproveitadores, dirigentes corruptos, pertencem ou vieram a pertencer à Sublime Ordem, o Maçom puro, honesto e realmente de bons costumes estranha e fica estupefato. O pior é que é possível encontrar maus elementos agindo da mesma forma dentro da entidade, contrariando, sem pudor, a linha comportamental e a postura digna de Maçom. Quer dizer, fundamentando-se nas leis da aprendizagem Maçônica e do condicionamento, que modifica o indivíduo, levando-o a diminuir seus comportamentos inadaptados e aumentar seus comportamentos adaptados, para esses, o resultado foi inverso. Nem a Iniciação ele entendeu !

Quando deparamos com esses Maçons, cujas atitudes desvirtuam dos princípios da Sublime Ordem, ficamos imaginando o dia da sua Iniciação, quando além das investigações de praxe, que antecedem a sua aceitação para ingresso, até o quê lhe é dito durante o ato e os seus juramentos que se sucedem. Não nos esquecendo que ele passou pela Câmara de Reflexões , em cujas paredes estão pintadas várias inscrições de advertência, sendo que uma delas diz, textualmente, “se fores dissimulado, serás descoberto”. Posteriormente o Aprendiz Maçom, por meio de participações em cerimônias, chegará ao grau de Mestre Maçom, passando antes pelo de Companheiro Maçom. Esse processo costuma estender-se, aproximadamente, por dois anos, período suficiente para entender, compreender, absorver e se integrar ao espírito Maçônico. Se persevera utilizar nos acontecimentos de suas atividades cotidianas – o progresso ritual que realizou através dos graus simbólicos – com o tempo conseguirá uma espécie de maturidade psicológica que implicará no seu título de Mestre Maçom. Obviamente, não deixa de ser uma tarefa árdua, porém, será um trabalho que servir-lhe-á por toda a vida. O Maçom terá de entender os princípios, mesclados durante as instruções que recebe como um modo de crescimento pessoal, primeiro como conceitos intelectuais e, depois, com a prática, a ter consciência de sua realidade através da experiência ao longo de sua atividade diária no mundo físico. Após alcançar a plenitude simbólica o Maçom passa a ter consciência de que ele não é mais um homem comum, mas sim, passou a ter qualidades superiores que o distinguem na coletividade em que vive.

São os próprios Maçons que arregimentam outros para a Ordem, e, para tanto devem estar imbuídos dos preceitos cuja escolha não traga elementos que possam provocar lamentações posteriores. Ao se convidar determinada pessoa para fazer parte da Maçonaria, leva-se em conta uma série de fatores que envolvem a sua vida cotidiana, até então, para ver se se enquadra no perfil do cidadão livre e de bons costumes, aprofundadas através de investigações, entrevistas e sindicâncias para apurar se as informações obtidas procedem. Mas, se a Ordem se acerca de todos esses elementos, como se explica que por vezes, aquele Iniciado não corresponderá aos seus princípios ? Por que o aprendizado recebido, que seria aplicado para o bem, ficou direcionado para o mal ?

 

Não há alternativa, numa Maçonaria que se deseja justa e perfeita, sem os cuidados que se deve tomar visando o seu funcionamento com os preceitos básicos que estão sintetizados nas Constituições de Anderson. Se nos permitimos passar por cima desses preceitos, estaremos, eternamente, pondo para chocar o ovo da serpente. Para salgar a terra onde esse ovo possa vir a desenvolver-se há uma necessidade imperiosa para que se cumpra todos os itens quando da admissão de um profano, de uma forma íntegra, séria e sem apadrinhamento espúrio. Algumas condições devem ser consideradas, como a amizade, a posição social, o modo de vida, o parentesco e o relacionamento profissional, todavia, elas não são imperativas. Às vezes um amigo ou um parente por mais íntimo que seja, pode merecer toda consideração como tal, entretanto, não ser digno de que depositem nele a confiança necessária para ser candidato a Maçom.

Recordemos os primeiros artigos dos Estatutos de Anderson que rezam, entre outras coisas, “que um Maçom é obrigado, em virtude do seu estado, a obedecer a lei moral, e, que consiste em ser bom, sincero, homem de honra e de probidade”. Claro está que, não é só o Maçom que precisa possuir essas virtudes, porém, para ser Maçom essas qualidades são imprescindíveis. Temos de entender, igualmente, que ser desonesto não é somente enfiar a mão no bolso de outrem para roubar: por vezes certas atitudes podem ser consideradas, ainda, piores.

Estaremos sempre temerosos por saber que, eventualmente, em alguma Loja pode estar sendo chocado o ovo da velha serpente... Isso nos induz a ficarmos, eternamente, alertas, mesmo cientes de que não somos infalíveis.

Numa cerimônia de Iniciação nem todos conseguem compreender a possibilidade de se estar trazendo uma pessoa perniciosa. Se for o caso e alguém der o alerta, pode ser que nem tenha crédito. Mas, se houver um mínimo de esforço, verá e compreenderá o que nos espera lá dentro, no futuro. Através das finas membranas poder-se-á discernir de forma clara o reptil já perfeitamente concebido, e, teremos sidos os responsáveis – por ação ou omissão – por fazer germinar o ovo da serpente......

 
Bibliografia:


Anderson, James, - Constituições dos Franco-Maçons

Bergman, Ingmar – O Ovo da Serpente

Bryant, J. – Mitologia Antiga

Figueiredo, E. - . . . Entrando na Maçonaria

Macnulty, W. Kirk - Maçonaria

Mellor, Alec – Dicionário da Franco-Maçonaria e dos Franco-Maçons

Seitas Secretas – Coleção Mistérios do Desconhecido


ER.IU.IP


(*) E. Figueiredo - pertence ao CERAT - Clube Epistolar Real Arco do Templo /


Integra o GEIA – Grupo de Estudos Iniciáticos Athenas /


Membro da Confraternidade Mesa 22, e é


Obreiro da ARLS Verdadeiros Irmãos – 669 (GLESP)





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