Autor: Mário Gentil Costa
Acho
mais razoável, prático e proveitoso contarmos com um relativo que seja concreto,
visível e palpável, a crermos num absoluto abstrato, imaginário e invisível.
Ao
contrário do que afirmam os crentes, sabemos cada vez mais através da ciência,
enquanto que não demos um passo adiante nos braços da fé. Esta se contenta com
crença pura e simples, sem raciocínio ou cogitação. E não raro os violenta;
aquela exige provas, demonstrações repetidas à exaustão até que se alcance a
certeza, em geral físico-químico-matemática. E requer, sobretudo, repetitividade
sistemática. A primeira se apoia no milagre; a segunda só se justifica com a
experimentação. Qual delas merece mais credibilidade? A que apela para causas
inexplicáveis e conceitos abstratos, tais como 'vontade de Deus'? Ou a que
sempre aceita ser testada e ainda tem a humildade de mudar quando reconhece seus
erros humanos?
Exemplos da primeira: dogmas da virgindade, da concepção virginal de
Maria e da ressurreição de Cristo, fenômenos que só teriam acontecido uma vez e
nunca mais. Quem sabe, quem diz, quem viu? Só os evangelhos. Quem prova?
Ninguém.
Exemplos da segunda: Todas as leis da física - velocidade da queda dos
corpos no espaço, conceito do heliocentrismo no sistema solar (Galileu), teorema
de Pitágoras e outros da geometria euclideana, leis de Mendel na genética, leis
da ação e da reação de Newton, leis de Kepler das órbitas elípticas - essas duas
últimas comprovadas à saciedade na prática das viagens espaciais - Lei de
Lavoiser, confirmada sempre que repetida em laboratório, Leis da Relatividade de
Einstein e assim por diante. Há centenas de exemplos na ciência. Tantos, que eu
nem saberia enumerar...
Quem pode exigir mais certeza que isso? Mais provas? Basta experimentar e
constatar. Nunca falham.
É isso que faz a diferença entre fé e ciência. E há uma minoria,
felizmente crescente, que não se satisfaz com a primeira. Eu tenho a sorte de
fazer parte dela. Só isso. Mas respeito quem aceita a
segunda...
Concordo
em que "os grandes mestres da filosofia esbarram em obstáculos intransponíveis
quando pretendem avançar em especulações", mas peço ao leitor que aceite o fato
de que a mesma afirmação não vale para o evidente e estonteante progresso da
ciência.
Vai
longe o tempo em que se confundia filósofo com cientista e filosofia com
ciência. Aristóteles foi o exemplo mais concreto: acertou muito na primeira e
errou redondamente na segunda, a ponto de afirmar que a Terra era o centro do
Sistema Solar, ao adotar a cosmologia do egípcio Ptolomeu em prejuízo da de seus
antecessores e compatriotas gregos. E por quê? Nunca experimentou; só pensou...
e como estava sozinho, aproveitou para especular, contribuindo, embora
involuntariamente, para atrasar o progresso da ciência nas mãos de Tomás de
Aquino, um embromador a serviço do Vaticano hegemônico e castrador.
Isso,
para não lembrar outro paranóico que viveu mil anos antes: Agostinho. Essas duas
figuras prejudicaram tão profunda e lamentavelmente o progresso da ciência, que,
se houvesse inferno, estariam lá ardendo até hoje. A menos que não houvesse
“justiça divina”...
Foi preciso nascer um Gutenberg para inventar a prensa com tipos móveis e
dar um basta definitivo na exclusividade da Igreja Católica como facciosa
guardiã do pensamento universal, que era moldado a seu-bel-prazer. Continuasse
ela na posse e na prevalência dos manuscritos antigos e estaríamos
ainda na idade média, arriscados à foguerinha do Santo Ofício. Acho que
Gutenberg deveria ser canonizado, pois contribuiu muito mais para a busca da
verdade do que qualquer teólogo.
Outra flagrante diferença entre fé e ciência está no fato de que esta
nunca teve a pretensão de abarcar 'tudo', porque sabe que este é inalcançável,
ao passo que aquela, presunçosamente, alardeia possuir este
segredo.
Por fim, a fé só abarca o 'absoluto' na cabeça dos crentes. Se isso lhes
basta, tudo bem. Pra mim, é muito pouco.