O TEMPLO MAÇÔNICO

O TEMPLO MAÇÔNICO

JORNAL DE PORTUGAL PUBLICA CRÔNICA DE E. FIGUEIREDO !

O quinzenário NOTÍCIAS DE MIRANDELA , de Mirandela, Portugal, publica,
em sua edição de número 1726 de 15 de Dezembro, a crônica Natalina de
E. Figueiredo, para o ano de 2012.
A crônica segue a linha do seu livro CRÔNICAS NATALINAS, uma coletânea
das suas crônicas, que teve grande aceitação para os apreciadores do gênero.
 
Newton Terceiro

FOSTER BAILEY





Autor: Ir.´. Dilson C. A. Azevedo

Foster Bailey (1888-1977) foi Maçom do Grau 32 (Grande Loja do Estado de Massachussets).
Era casado com a escritora mística Alice Bailey ligada a Sociedade Teosófica.
Inicia ele seu famoso livro “O Espírito da Maçonaria”, com as considerações abaixo transcritas:

ORDEM CERIMONIAL

“Que o Templo do Senhor seja construído”, gritou o sétimo grande anjo. Então para os Seus lugares no Norte, no Sul, no Ocidente e no Oriente, sete grandes Filhos de Deus moveram-se com passo medido e ocuparam os Seus assentos. O trabalho de construção era começado.
As portas foram fechadas e vigiadas. As luzes brilhavam esbatidas. As paredes do Templo não podiam ser vistas. Os Sete estavam silenciosos e as Suas formas estavam veladas. O tempo não tinha chegado para a irrupção da LUZ. A PALAVRA não podia ser pronunciada. Só um silêncio reinava. Entre as sete Formas, o trabalho prosseguia. Uma chamada silenciosa partiu de cada um para o outro. Todavia, a porta do Templo permanecia fechada... À medida que o tempo passava, fora das portas do Templo, os sons da vida eram ouvidos. A porta era aberta e a porta era fechada. Cada vez que abria, um Filho de Deus menor era admitido e o poder dentro do Templo crescia. Cada vez, a luz crescia com mais força. Assim, um por um, os filhos dos homens entravam no Templo. Passavam de Norte para Sul, de Ocidente para Oriente e, no centro, no coração, encontraram luz, encontraram compreensão e o poder para trabalhar. Entraram pela porta. Passaram perante os Sete. Ergueram o véu do Templo e entraram na luz.
O Templo crescia em beleza. As suas linhas, as suas paredes, as suas decorações e a sua largura, profundidade e altura emergiram lentamente na luz.
Vinda do Oriente, uma palavra partiu: “Abri a porta a todos os filhos dos homens, que vêm de todos os vales obscurecidos da terra e deixai-os procurar o Templo do Senhor. Dai-lhes a luz. Desvelai o santuário interior e, pelo trabalho de todos os Obreiros do Senhor estendei o Templo do Senhor, e assim irradiai os mundos. Fazei soar a Palavra criativa e levantai os mortos para a vida.”
Assim será o Templo da Luz levado do céu para a terra. Assim serão as suas paredes erguidas sobre as planícies da Terra. Assim a luz revelará e alimentará todos os sonhos dos homens.
Então, o Mestre do Oriente despertará todos que estão adormecidos. Então, o Vigilante no Ocidente experimentará e provará todos os verdadeiros buscadores da luz. Então, o Vigilante do Sul instruirá e auxiliará os cegos. Então, o portão para o Norte ficará completamente aberto, pois aí o Mestre invisível permanece com mão acolhedora e coração compreensivo para conduzir o candidato para o Oriente, onde a verdadeira luz continua a brilhar...
“Mas por que esta abertura das portas do Templo?” interrogam os maiores dos Sete, os Três sentados. “Porque chegou a hora; os Obreiros estão preparados. Deus criou na luz. Os Seus filhos podem agora criar. Não existe mais nada para fazer”.
“Faça-se assim,” veio a resposta dos maiores dos Sete, os Três sentados.“ O trabalho pode agora começar. Que todos os filhos da Terra comecem a trabalhar.”

Trata-se de uma visão espiritualista e pessoal acerca da nossa Ordem em outro plano dimensional.
Alguns podem criticá-lo...
Porém, que seria do mundo sem a Poesia, a Beleza, a Fantasia?
Escritas em 1957 estas palavras ainda comovem e estimulam.
Como disse o poeta inglês Keats (1795-1821):
“A thing of beauty is a joy forever”
(Uma coisa bela é uma alegria para sempre)

              

A ORIGEM DA PALAVRA IRMÃO.



Colaboração do Ir.´. Paulo Antonio Muller Junior
Texto de autoria do Ir.´. Valdemar Sansão

Os membros da Maçonaria, unidos pelo Amor Fraternal, qualquer que seja o seu grau, dão–se o tratamento de “Irmão”. É o título que geralmente se dão, mutuamente, os religiosos de uma mesma Ordem e de um mesmo convento e também os membros de uma mesma associação.
Esse tratamento existe em todas as sociedades iniciáticas e nas confrarias, em que o seu significado é a condição adquirida com a participação de um mesmo ideal baseado na amizade. É o tratamento que se davam entre si os maçons operativos.

 
A origem do cordial tratamento de “Irmão” afirma que esse tratamento foi adotado e nunca mais olvidado pelos maçons, desde os tempos de Abraão, o velho patriarca bíblico. Reza a história que estando ele e sua mulher Sara no Egito, lá ensinavam as 7 ciências liberais (gramática, lógica e dialética, matemática, geometria astronomia e música), e contou entre os seus discípulos com um de nome Euclides. Tão inteligente que não demorou nada em tornar-se mestre nas mesmas ciências, ficando por isso bastante afamado como ilustre personagem.
Então Euclides, a par com suas aulas, estabeleceu regras de conduta para o discipulado; em primeiro lugar cada um deveria ser fiel ao Rei e ao país de nascimento; em segundo lugar, cumpria-lhes amarem-se uns aos outros e serem leais e dedicados mutuamente. Para que seus alunos não descuidassem dessas últimas obrigações, ele sugeriu a eles que se dessem, reciprocamente, o tratamento de “Irmãos” ou “Companheiros”.
Aprovando inteiramente esse costume da escola de Euclides, a Maçonaria resolveu sugeri-lo aos seus iniciados, que receberam-no com todo agrado, sem nenhuma restrição, passando a ser uma norma obrigatória nos diversos Corpos da Ordem.
De fato, traduz uma maneira de proceder muito afetiva e agradável a todos os corações dos que militam em nossos Templos. Assim passaram os Iniciados ao uso desse tratamento em todas as horas, quer no mundo profano, quer no maçônico.
O Poema Regius, que data do ano de 1390, aconselha os operários a não se tratarem de outra forma senão de “meu caro Irmão”. Por isso o tratamento de Irmão dado por um maçom a um outro, significa reconhecimento fraternal, como pertencente à mesma família.
Os maçons são Irmãos por terem recebido a mesma Iniciação, os mesmos modos de reconhecimento e foram instruídos no mesmo sistema de moralidade. Além da amizade fraternal que deve uni-los, os maçons consideram-se Irmãos por serem, simbolicamente, filhos da mesma mãe, a Mãe-Terra, representada pela deusa egípcia Ísis, viúva de Osíris, o Sol, e a mãe de Hórus.
Assim os maçons são, também, simbolicamente, Irmãos de Hórus e se autodenominam Filhos da Viúva.
Durante a Iniciação quando o recipiendário recebe a Luz, seus novos Irmãos juram protegê-lo sempre que for preciso. A partir daquele momento, todos que a ele se referem o tratam como Irmão. Os filhos de seus novos Irmãos passam a tratá-lo como “Tio” e as esposas de seus Irmãos passam a ser sua “Cunhada”. Forma-se nesse momento um elo firme entre o novo membro da Ordem e a família maçônica.
A Maçonaria não reconhece qualquer distinção entre raças, crenças, condições financeira ou social entre seus obreiros. Há séculos vem a Sublime Instituição oferecendo a oportunidade aos homens de se encontrarem e colherem os frutos do prazer de conviver sempre em paz, em união e concórdia, como amigos desinteressados, dentro de um espírito coletivo voltado à prática do bem, guiados por rígidos princípios morais, sem desavenças e dissensões.
Os membros de nossa Ordem aprendem a destruir a ignorância em si mesmos e nos outros; a ser corajosos contra suas próprias fraquezas, lutar contra seus próprios vícios e também contra a injustiça alheia.
São estimulados a praticarem um modo de vida que produza um nível elevado em suas relações com seus Irmãos, aos quais dedicam amizade sincera e devotada. São fiéis cumpridores de todo dever cujo cumprimento lhes seja legalmente imposto ou reclamado pela felicidade de sua Pátria, de sua Família e da Humanidade.
Jamais abandonará sua prole, seus Irmãos e seus amigos, no perigo, na aflição ou na perseguição. Sobre o coração do maçom está o símbolo do amor, da amizade, da razão serena e perseverante.
O que o distingue na vida profana é sua aversão à iniquidade, à injustiça, à vingança, à inveja e à ambição, sendo ele constante em fazer o bem e em elogiar seus Irmãos.
O verdadeiro Irmão é aquele que interroga sua consciência sobre seus próprios atos, pergunta a si mesmo se não violou a lei da justiça, do amor e da caridade em sua maior pureza; se não fez o mal e se fez todo o bem que podia; se não menosprezou voluntariamente uma ocasião de ser útil; se ninguém tem o que reclamar dele. E quando não tem uma palavra que auxilie, procura não abrir a boca… (Se for falar, cuida para que suas palavras sejam melhores que o seu silêncio).
O Irmão, possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperança de recompensa, retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e sacrifica sempre seu interesse à justiça.
Ele é bom, humano e benevolente para com todos, sem preferência de raças nem de crenças, abraça o branco e o preto ( pois não é a cor, mas sim o talento e a virtude que faz um homem elevar-se por sobre os demais), o rico e o pobre, o jovem e o velho, o sábio e o ignorante, o nobre e o plebeu, porque vê Irmãos em todos os homens.
Porém, devemos observar que nem o rico, o príncipe ou o sábio, devem “descer” para o nivelamento. Não descendo ao nível deles mas, sim, ajudando-os a se levantarem e poderem melhor enxergar o horizonte. É caminhando que se faz o caminho. Pensando, agindo, sentindo, sofrendo, aprendendo e corrigindo. Fazendo melhor em seguida. Se comprometendo a sempre ensinar aos capazes, o que se aprendeu. Capacitando-os. Perpetuando a GNOSE adquirida.
Quem deverá “subir” é o pobre; pobre no sentido de ser CARENTE. Acontece de existir entre os ricos de recursos materiais, os pobres de sabedoria, ignorantes de conhecimento, de altruísmo e complacência.
O verdadeiro Irmão não tem ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; compreendendo, nem condena. Portanto perdoa, e anula as ofensas, e não se lembra senão dos benefícios que já tenha recebido, porque sabe que com a mesma sábia compreensão que deixou de condenar, assim será tratado intimamente, na sua própria causa de compreensão, como réu de sua consciência, quando essa lhe julgar.
Não se compraz em procurar os defeitos alheios, nem em colocá-los em evidência. Se a necessidade a isso o obriga, procura sempre motivar o bem que pode atenuar o mal.
Não se envaidece nem com a fortuna, nem com as vantagens pessoais, porque sabe que tudo o que lhe foi dado apenas o direito da posse, pertence ao mundo e por poder dessa força natural, se desmerecido, tudo pode lhe ser retirado.
Se a ordem social colocou homens sob sua dependência, ele os trata com bondade e benevolência, porque são seus iguais perante o Grande Arquiteto do Universo; usa de sua autoridade para erguer-lhes o moral e não para os esmagar com o seu orgulho; evita tudo o que poderia tornar sua posição subalterna mais penosa.
O subordinado, por sua vez, compreende os deveres da sua posição, e tem o escrúpulo em cumpri-los conscienciosamente.
O verdadeiro Irmão respeita em seus semelhantes todos os direitos dados pelas leis da Natureza, como gostaria que os seus fossem respeitados.
Aplicando os ensinamentos maçônicos, tanto no interior dos Templos como no seio da sociedade profana, dentro de suas possibilidades, colabora para a edificação do Templo da civilização humana.
Afinal, se cultiva a liberdade, a igualdade e a fraternidade, tem por obrigação, abrir mais os seus braços, entrelaçar seus Irmãos e oferecer sua convivência fraterna, sua influência, seu trabalho de auxílio, com harmonia, paz, concórdia e fraternização, dentro e fora do Templo.
Enfim, o verdadeiro Irmão saberá fazer o Bem sem ostentação, mas não sem utilidade para todos. Onde quer que o pobre reclame o combate sem descanso aos exploradores dos fracos, o auxílio e proteção à criança ou à mulher, o Irmão é obrigado a fazer obra maçônica. É-lhe proibido fechar os olhos aos deserdados da sorte.
Porém, só quando se encontra revestidos de todas essas virtudes é que pode dizer: “Meus Irmãos como tal me reconhecem” – frase mais ouvida e citada dentro da Loja e também fora dela – como forma de identificação.

Curioso, no entanto, é que ao sermos reconhecidos como Irmãos, o outro abre o sorriso e os braços, como se fosse um velho conhecido. Esse é um sentimento de irmandade, é muitas vezes, mais forte que entre Irmãos de sangue.
Nossa Ordem precisa de Irmãos verdadeiros, aqueles que têm orgulho de pertencerem à Sublime Instituição e estão dispostos a sacrifícios pessoais em benefício dela.
O Grande Arquiteto do Universo, que é DEUS, ouve nossos rogos e nos mostra o caminho que a Ele conduz, continua a nos proporcionar a dádiva da aproximação de valorosos Irmãos que nos socorrem em nossas dificuldades, se interessam por nós, nos escrevem, telefonam para saber como estamos, trocam e-mails e assim, não nos deixam experimentar a depressão e a solidão.
Nossas Lojas Maçônicas são portos seguros, colos de mãe para enxugamento das lágrimas e o consolo de nossas dores, num ambiente de luz, paz e amor, pois é sublime reunir em seu seio, católicos, evangélicos, espíritas, maometanos, israelitas, budistas, e a todos dizer: ” Aqui vossas disputas não encontrarão eco. Aqui, não ofendereis a ninguém e ninguém vos ofenderá.”
Meu Irmão, se eu me esquecer de você, nunca se esqueça de mim! Conte comigo. Eu conto consigo.

“O maior cargo em maçonaria é o de verdadeiro Irmão.”

THOMAR E TEMPLÁRIOS



“A História é: êmula do tempo, repositório dos fatos, testemunha do passado, exemplo ao presente, advertência para o futuro.”
(Miguel de Cervantes)

“A História é: versão dos eventos passados sobre os quais as pessoas decidiram concordar .”
(Napoleão Bonaparte)


2ª Parte

Autor: Ir.´. Dilson C. A. Azevedo

Ad perpetuam rei memoriam (para perpétua lembrança do fato), seja dito que em 13/10/1307 (sexta-feira treze, dia azíago) ocorreu com a Ordem do Templo uma tragédia, a qual até hoje revolta aos que não são indiferentes à injustiça, à ignorância, ao fanatismo e à tirania.
Acusados de Heresia, atos obscenos, etc, os membros da Ordem Templária, “sacerdotes-guerreiros”, “os primeiros a atacar e os últimos a se retirar”,



foram subitamente presos ao alvorecer do dia, por ordem do Rei da França Felipe IV. Segundo o seu ponto de vista ele poderia punir aos Templários pois os mesmos não eram monges e sim militares, daí que  a competência judiciária sobre eles pertencia ao poder laico. Não teria porém condições de julgar a Ordem que era apenas subordinada ao Papa. Na realidade, ele ambicionava apoderar-se dos tesouros da Ordem do Templo.
Os templários eram nessa época os maiores proprietários de terras na Europa, possuindo também castelos, inclusive na Ásia Menor e Palestina, tudo bem administrado e isento de dízimo religioso.
Entretanto, este poderio econômico causava incômodo a vários setores da Sociedade: ao Clero (por receber a Ordem doações que poderiam ser destinadas à Igreja), aos Nobres – endividados com os Templários, aos Comerciantes (por concorrência em negócios e atividades outras) e finalmente ao Rei Felipe que sentia inveja pelo poder que eles tinham.
Tudo o que sucedeu foi planejado com antecedência. Muito antes, o Monarca infiltrou espiões do Governo entre os Templários para obter informações que os incriminassem, e também conseguiu outras maledicências supostamente comprometedoras através Esquin (ou Esquieu) de Floryac (ou Floyran), que havia sido expulso da Ordem.

Era uma época de fanatismo religioso, estimulado pela Igreja Católica com o objetivo de consolidar seu poder. Para imaginar-se o que acontecia por aqueles tempos, diga-se que em 909 o Concílio de Trosly (assembléia dos religiosos para tratar de temas específicos), em Soissons (França), anunciou a chegada do Apocalipse, gerando pânico entre o povo e intenso fervor religioso.
Tal fato estimulou penitências, doações para limpar consciências, e perseguições aos que não seguissem as idéias da Igreja sendo eles chamados de Hereges (do grego significando opção ou escolha). Diga-se a propósito que a obtenção dos bens dos Hereges sempre foi algo de interesse ao Poder Dominante. Em Portugal (1681) havendo necessidade monetária para um casamento real, a Nobreza e o Clero suplicaram ao Papa permitisse o restabelecimento da Inquisição, para que o confisco dos bens dos Hereges pudesse cobrir os gastos do evento (A. Novinsky).
O Rei Felipe IV (1268-1314) cognominado “O Belo” tinha um caráter não condizente com as sua aparência física. Era cruel, implacável, corrupto e muito ambicioso.
Esteve envolvido na morte do Papa Benedito XI que faleceu após comer figos envenenados. Modificou trinta e cinco vezes a moeda do seu país, sendo por isso chamado “falso moedeiro”. Transformou os luizes (moeda da época) que deveriam ser de ouro, em uma liga, ficando assim com um valor inferior ao cunhado anteriormente. Prendeu banqueiros italianos e também aos judeus (aos quais podia torturar) para apoderar-se dos seus bens. Extorquiu ainda ao Clero e criou em excesso de novos impostos. Era devedor financeiro aos ricos e poderosos Templários (por despesas familiares e militares). Estes últimos  em certa ocasião o socorreram em sua Sede em Paris, protegendo-o de uma revolta popular (Force Monnaie 1306) porque ele desvalorizou a moeda corrente. Conta-se que durante o abrigo de nove dias (outros falam em três dias), o seu séquito, acostumado a uma vida de excessos, conseguiu consumir 806 libras de pão e 2077 litros de vinho.
Em relação aos Templários tinha ele ressentimentos: relutância da Ordem em emprestar o dinheiro para o resgate do seu avô São Luiz durante uma Cruzada, e recusa pelos dirigentes da Organização Templária em admití-lo como membro-honorário ao perceber suas intenções de tirar proveito do fato. Não obstante tudo isto convidou o Grão Mestre Jacques de Molay, para padrinho de um dos seus filhos (embora isto fosse proibido pela Ordem), por considerá-lo “o mais justo e perfeito Cristão”.
Também na véspera da prisão dos Templários deu a Jacques de Molay a honra de segurar o cordão da mortalha da Princesa Catarina de Courtenay sua cunhada.
Astutamente para colocar a opinião pública a seu favor ao aprisionar os Templários, redigiu comunicado para ser lido em Paris e outras cidades da França, justificando sua conduta. Depois enviou cartas aos Reis Cristãos da Europa explicando o que aconteceu, e solicitando agissem como ele.



Logo após a prisão dos Cavaleiros do Templo, preocupou-se o Rei em pilhar cartas de crédito e documentos que atestassem suas dívidas perante os Templários.
O Rei Felipe IV após contínuas discussões e intimidações conseguiu o apoio do Papa Clemente V (Bertrand de Got ou Guoth, ou Goth, 1264-1314), o qual devia sua eleição aos 40 anos de idade, à interferência do monarca francês.
Embora duvidando das acusações, e desvalorizando os Templários que sempre se destacaram na defesa do Cristianismo, o Soberano Pontífice emitiu uma bula abolindo a Ordem do Templo. Bula é um documento lacrado com uma pequena bola de cera ou metal, e que recebe o nome de suas primeiras palavras.

Entretanto em 2001 na Biblioteca Secreta do Vaticano, a pesquisadora Barbara Frale achou um documento, não promulgado, o chamado Pergaminho de Chinon, absolvendo os dirigentes Templários
Clemente V, estudioso da Alquimia (para obter a Pedra Filosofal, e assim adquirir riquezas materiais) era fraco de caráter, tergiversador, mundano, nunca viajando sem a sua amante Brunissende, a qual lhe custava muito financeiramente. Para aumentar seus rendimentos vendia bênçãos para remissão total ou parcial dos pecados, revogava decretos de excomunhão, reduzia o tempo no purgatório aos que tinham morrido, etc.
Curioso é que no brasão da sua família estava escrito: “Par Infimis (igual aos mais humildes) o que era discordante com sua vida pessoal.
Durante sua coroação em Lyon (França) ocorreu uma tragédia. Em uma rua estreita uma parede não agüentou o peso dos espectadores e caiu sobre o Cortejo Papal. À frente vinha o Papa cavalgando um cavalo branco, com as rédeas seguradas por Charles de Valois, irmão do Rei Felipe IV. Atrás do Papa seguia o Rei demonstrando humildade.
Algumas pessoas morreram no acontecimento, entre elas um irmão do Pontífice. No outro dia, durante uma briga faleceu um outro irmão do Papa. (Enciclopédia Católica).
Na ocasião do incidente a Tiara Papal ou Triregnum (três coroas superpostas indicando o Poder Supremo do Papa, acima dos fiéis, sacerdotes e dos reis ou as três Igrejas padecente, militante e triunfante), caiu ao solo perdendo-se uma pedra preciosa.



Havia cerca de 2000 Templários na França, incluindo cavaleiros e servos. Aqueles aprisionados foram submetidos de imediato a torturas para extrair confissões de crimes, ante que surgissem objeções públicas e para colocar o Papa diante de um “Fait Accompli” (Fato Consumado)
Justificava-se o emprego de torturas em casos de heresia porque em 1252 o Papa Inocêncio IV, assim o havia autorizado.
Então chamou-se o Grande Inquisidor da França, Guillaume (Robert) de Paris, confessor de Felipe IV, e também carcereiros e executores do Monarca.
O Inquisidor solicitou ainda ajuda a outros Dominicanos (ridicularizados por alguns como Domini Canes, “os cães do Senhor”), pois eles tinham experiência na obtenção de “confissões” e “procedimentos eclesiásticos” que não causavam derramamento de sangue ou quebra de ossos, após a prática com os cátaros e judeus. Ironicamente em 1143, durante Assembléia Geral, estes sacerdotes Dominicanos tinham decidido que ao assistirem como confessores o testamento de agonizantes, eles procurariam garantir uma doação aos Templários (Jean Tourniac).

Os infames procedimentos de tortura incluíam entre outras coisas: açoitamento com chicote de ponta metálica, distensão dos membros a ponto de deslocar as articulações, esfregar a sola dos pés dos condenados com gordura e depois colocá-las diante do fogo, enfiar lascas de madeira sobre as unhas ou arrancá-las, aplicar ferro em brasa em qualquer parte do corpo, arrancar dentes perfurando as gengivas para aumentar a dor, interrogar incessantemente o prisioneiro o qual não podia dormir e deixá-lo urinar e evacuar à vista de todos, privando também de água e alimentos, etc.
Às vezes os agentes da Lei, Guardiões da Pureza Religiosa e Política, sádicos Homens-Feras, criavam terror mostrando apenas os instrumentos de suplício, ou permitindo uma próxima vítima assistisse o “delicado” interrogatório de outro infeliz preso.

 

Eram comuns distúrbios psiquiátricos e tentativas de suicídio entre os Templários aprisionados. Um deles chegou a declarar: “Mataria Deus para interromper meu tormento”.

As instalações das prisões, sem luz ou ventilação, com mau cheiro ambiental também contribuíam para o desespero. Muitos Cavaleiros amontoados em um único cômodo eram presos a um aro no chão ou parede.
O Templário Ponsard de Gisy declarou que permaneceu três meses dentro de um fosso, com as mãos amarradas as costas.
A comida e água servidas eram de péssima qualidade causando vômitos e diarréia, e os doentes não tinham como fazer higiene pessoal, dormindo no chão sujo, às vezes limpo com baldes de água.
Somente na Torre do Templo em Paris, 138 Templários sucumbiram às torturas, confessando crimes que não cometeram. Aos que confessassem era-lhes retirada a barba (sinal de origem nobre), privilégio que os distinguia de outras ordens monásticas. Muitos morreram nas fogueiras.

Também o Grão Mestre da Ordem do Templo não escapou da tortura que o levou a confessar ter renegado a Cristo. Conta-se que em certa ocasião ao ser interrogado por Cardeais, ele rasgou sua camisa para mostrar seus ferimentos, e os prelados “choraram amargamente e foram incapazes de falar”.
Dizem alguns que nestes “procedimentos”, o torturado fala não apenas o que o Inquisidor quer, mas também o que imagina possa agradá-lo.

  

Após sete anos de encarceramento, aos 70 anos, esquálido, Jacques de Molay foi levado diante da Catedral de Notre Dame para leitura da sua sentença que seria prisão perpétua. Nessa ocasião retratou-se publicamente do que havia “confessado”. Declarou sua inocência, e afirmou: “Que necessidade pode ter a vida, se me for preciso comprá-la com uma mentira?”
Tal fato gerou comoção pública entre os presentes tornando-o um Herege reincidente. Tal comportamento levou o Rei Felipe IV a ordenar que fosse queimado vivo imediatamente ao pôr do sol, juntamente com Geoffroy de Charney (Mestre da Normandia) em pequena ilha na extremidade da Ilê de La Cite (Paris).
Acreditava-se que o fogo purificava o pecador que iria direto ao paraíso.
Afirmava-se que Igne natura renovatur integra (a natureza é inteiramente regenerada pelo fogo).

  
 

Jacques caminhou para a morte com tranquilidade. Diz-se que falou:
“Os corpos pertencem ao Rei, mas as almas pertencem ao Senhor Deus”.
Morreu invocando proteção de São Jorge (Santo da Cavalaria) para a Ordem e clamando ao Criador fossem chamados a juízo o Rei Felipe IV e o Papa (em hebraico falou: Nekam Adonai, Chol Begoal – Vingança Senhor, abominação a todos). Pediu também ficar voltado para a Catedral de Notre Dame.
Preso a uma estaca sofreu a ação lenta de um fogo quente e sem fumaça.
Naquele momento sentia-se um cheiro fétido de carne queimada espalhando-se pelo ar. Com face preta, língua inchada, Jacques falava com dificuldade. Gordura, água e sangue pingavam das extremidades dos dedos, até que sua força acabou, e com os membros inferiores praticamente consumidos, tombou para frente.
Existe uma lenda que após a morte do Grão Mestre, o teto da Catedral de Notre Dame encheu-se de corvos, aves relacionadas com mau agouro.
Mais tarde, à noite, algumas pessoas foram recolher as cinzas dos mártires, cobrindo-as com acácias.
Curiosamente trinta e sete dias depois morria o Papa Clemente V, com dores abdominais e febre. O seu corpo foi em parte carbonizado, porque durante a noite, em seu velório, quando foi abandonado, uma vela caiu sobre o catafalco e incendiou o local.
Cerca de sete meses mais tarde o Rei Felipe IV faleceu aos 46 anos. Ele perdeu-se dos acompanhantes em uma caçada e foi achado caído do cavalo, talvez por acidente vascular cerebral. Alguns dizem que seus ferimentos infectaram-se ocorrendo gangrena e depois óbito. O seu coração foi transportado par o Mosteiro de Poissy. Em certa ocasião um raio caiu sobre a igreja incendiando-a, e destruindo o que restava do Rei da França. A sua sepultura na Basílica de Saint Dinis foi profanada em 1793 durando a Revolução Francesa. Os seus três filhos, que o sucederam, morreram também no decorrer de catorze anos.
Muitos anos mais tarde (1793, final da Monarquia Francesa), durante a execução do Rei Luiz XVI na guilhotina (invenção que decapitou 2.794 inimigos da Revolução Francesa em Paris, aperfeiçoada por razões humanitárias por J. Guillotin, filiado a Maçonaria), um homem barbudo sempre presente quando padres iam ser guilhotinados, subiu ao patíbulo e borrifou com sangue real as cabeças das pessoas mais próximas e gritou:

“Peuple français, je te baptise au nom de Jacques et de la Liberté”.
(Povo francês, eu te batizo em nome de Jacques e da Liberdade”.



Passaram-se séculos no Grande Teatro do Mundo, e vemos hoje que na peça “Os Templários” apresentada na França, alguns atores vivenciaram papéis infames, outros ao contrário preferiram atuar demonstrando uma nobreza espiritual elevada, tudo de acordo com as essências de cada um.
Lamentável isto tenha ocorrido de um modo chocante e totalmente em desacordo com as bases do Cristianismo, usado para encobrir propósitos escusos.

Ao inúmeros Templários torturados, queimados, insepultos, sejam lembradas as palavras de Tácito (historiador romano, 55 dC – 120 dC) parafraseadas pelo escritor e ministro francês André Malraux (1901-1976):

“Le tombeau des héros est le coeur des vivants”.
(O túmulo dos heróis é o coração dos vivos).



Créditos de imagens:
1)       Templários – Editorial Estampa
2)       Nascidos em Berço Nobre – S. Dafoe – Ed. Madras
3)       Os Templários – M. Haag – Ed. Prumo
4)       Os Templários – P. P. Read – Ed. Imago
5)       A Inquisição – A. Novinsky – Ed. Brasiliense
6)       O Compasso e a Cruz – S. Dafoe – Ed. Madras
7)       História Ilustrada dos Cavaleiros Templários – Ed. Pensamento